sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

O RESULTADO DA INFILTRAÇÃO SINDICAL NO GOVERNO E ÓRGÃOS CONGÊNERES

Revista Veja denuncia culpados pela crise financeira do Plansfer

A revista VEJA de 19 de janeiro, nas páginas 62 e 63, conta resumidamente a história da gestão irresponsável do SESEF entre 2003 e 2008, que levou à dilapidação de 55 milhões de reais da reserva técnica em Notas do Tesouro Nacional e ainda deixou uma dívida superior a 40 milhões com as entidades prestadoras de serviços.
Só uma subvenção social do Governo Federal pode reequilibrar o orçamento e a qualidade do Plansfer.

Leia aqui a íntegra da reportagem de Daniel Pereira:




O TEOREMA DO FISIOLOGISMO

Às vezes é difícil entender por que partidos consolidados, como o PT e o PMDB, se envolvem em disputas sangrentas por cargos aparentemente sem muita relevância. Quando se tem certos dados em mãos, fica mais fácil. O Serviço Social das Estradas de Ferro (SESEF) é um órgão do Ministério dos Transportes que, desde o fim da década de 80, administra o Plansfer, um plano de saúde de 13000 ferroviários, na maioria aposentados. Em 2003,depois da posse do ex-presidente Lula, o SESEF foi entregue aos cuidados de diretores indicados pelo deputado petista Carlos Santana, do Rio de Janeiro, é simples destrinchar a equação do parlamentar. O “X”: a maioria dos ferroviários mora no Rio de Janeiro, e, portanto, tem-se ali um atraente baú de votos. O “Y”: de olho em dividendos, a ação número 1 da turma do deputado após a nomeação para o cargo foi administrar uma dívida de 55 milhões de reais que o SESEF recebeu do governo federal, recursos imediatamente transformados em um fundo de reserva que deveria garantir o plano de saúde dos ferroviários por muitos anos. O resultado de “X” + “Y”: nesta semana deve ser decretada a liquidação do Plansfer, atolado em denúncias de irregularidades e dívidas que ultrapassam 40 milhões de reais.
O caso SESEF revela com precisão matemática o que quase sempre se esconde na retaguarda da batalha entre os partidos por determinados espaços do governo. O deputado Carlos Santana, um companheiro de sindicalismo do ex-presidente Lula, pediu e levou o controle do SESEF. Para os principais cargos de direção do órgão, nomeou colegas de luta, sindicalistas como ele. Foi seu bom trânsito no governo, em 2003, que garantiu ao petista o direito de administrar o fundo de saúde e também fez com que seus companheiros mantivessem o cargo no segundo mandato do ex-presidente. Os ferroviários levaram algum tempo para compreender a exata dimensão do interesse da companheirada no SESEF. Segundo denúncia apresentada ao Ministério Público e transformada em inquérito na Justiça do Rio de Janeiro, o tal fundo de saúde foi usado para financiar as campanhas eleitorais da Carlos Santana. Intriga de peemedebistas, diriam os petistas. Não nesse caso. O autor da denúncia é Osmar Rodrigues , filiado ao PT do Rio, ex-colega do deputado e ex-presidente do conselho de usuários do Plansfer. Ele relata que o grupo político de Santana pagou festas, shows e até financiou obras irregulares com a verba do plano de saúde. “O SESEF foi aparelhado com pessoal ligado ao meio sindical e ao PT. Foi montado um sofisticado esquema que trabalhava para os sindicatos e candidatos do grupo político do deputado Carlos Santana”, acusa Rodrigues.
Entre as dezenas de irregularidades descobertas, há algumas bizarras, como a contratação de um eletricista por 250 000 reais e a encomenda de milhares de cartões de benefícios, que depois se revelaram uma fraude, às vésperas da campanha eleitoral. “Minha vida pública é marcada pela defesa dos ferroviários. Seria uma incoerência minar o plano. Não vou entrar em disputa política”, explica o parlamentar. Quanto ao dinheiro desviado, Santana diz que desconhece o assunto . Sobre as festas, não pode sequer negar sua participação. Há um acervo de fotografias tiradas por seu irmão. Claudionor, especialmente contratado pelo SESEF para o trabalho. Em janeiro de 2008, a Agência Nacional de Saúde (ANS) instaurou um regime de “direção fiscal” no Plansfer. Essa medida ocorre quando o órgão regulador detecta problemas econômico-financeiros nas operadoras. Além de torrar os 55 milhões de reais do fundo de reserva, a direção petista do SESEF acumulou uma dívida de 40 milhões com hospitais e laboratórios. “ A gestão anterior foi duplamente criminosa, porque, além de gastar a reserva técnica e deixar uma dívida milionária, prejudicou um plano que atende idosos, que dificilmente terão condições de mudar para outra operadora”, diz Jorge Moura, o novo diretor executivo do SESEF, que assumiu o cargo no fim de 2008 e que, desde então, tenta convencer o governo a impedir o fechamento do Plansfer . Em 2006, quando comandava a estrutura, Carlos Santana foi reeleito. Em 2010, longe dela, faltou voto. Agora, no novo governo, o parlamentar pleiteia a direção da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU). O fisiologismo sobrevive assim como praga.